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Tecnologia e Medicina do Esporte: Parte 1

Atualizado: 6 de jul. de 2021

A tecnologia e o futebol americano andam de mãos dadas há muito tempo e isso é novidade para ninguém. Diversas empresas e pesquisadores atuam no esporte e utilizam as novidades do cenário científico para aprimorar os processos de preparação física, desenvolvimento e análise de performance, recuperação muscular, prevenção de lesões e monitorização dos atletas. Esses projetos ocorrem não só pelo forte envolvimento universitário e acadêmico no esporte, mas pelo investimento realizado pelos clubes em modernização, criando uma corrida tecnológica que acompanha a evolução do esporte e sua competitividade.

Para elucidar esses fatos, separei algumas empresas que atuam no futebol americano, e em outras modalidades, que estão modificando a maneira como o atleta de ponta desenvolve sua periodização do treinamento desportivo e protocolos de recuperação muscular e como isso modifica a relação entre o plantel de atletas e o departamento médico.



A empresa foi fundada em 2006 a partir de uma parceria entre o Instituto Australiano de Esporte (AIS) e os Centros Cooperativos de Pesquisa (CRC) visando maximizar o desempenho dos atletas australianos antes dos Jogos Olímpicos de Sydney. Em setembro de 2013, a Catapult ganhou o prêmio Engineering Australia President's Award pela sua revolucionária tecnologia esportiva e, em 2015, ficou em 10º lugar na lista das 50 empresas mais inovadoras da Fast Company, sendo a primeira colocada na categoria Fitness.

A empresa utiliza a tecnologia GPS/LPS para realizar análises específicas, combinando dados de sensores inerciais de acelerômetros, giroscópios e magnetômetros com informações posicionais, extraindo conjuntos de dados que podem destacar as demandas específicas de diferentes posições, monitorando o desenvolvimento da performance. As informações de latitude e longitude são captadas através de um dispositivo acoplado a um colete de compressão.

Foto: bymileswilson.com

O dispositivo obtém informações sobre a carga realizada e sinais vitais do atleta. Isso é de suma importância pois pode quantificar o esforço realizado durante os treinos, podendo ser utilizada posteriormente para formulação de estratégias de saúde, prevenção e acompanhamento de lesões e estudos em fisiologia do exercício.


No futebol americano, o dispositivo é capaz de responder questões como: Qual carga o quarterback acumula entre lançamentos, o quanto o exercício aeróbio pode influenciar na precisão dos lançamentos, qual a diferença de demanda entre um treino e uma partida oficial, entre outras. Hoje a empresa presta serviços para a IMG Academy, atuando diretamente na preparação dos atletas para o Combine, em Indianapolis.


Diversos times utilizam a tecnologia oferecida pela Catapult Sports. Tom Myslinski (Jacksonville Jaguars) foi o primeiro a utilizar a tecnologia em 1996, ainda de forma mais básica, enquanto atuava pelo Cleveland Browns. Segue seu relato sobre a prática: “Quando conversávamos com nossos treinadores, tínhamos informações mais baseadas no conhecimento, em vez de apenas falar que essa era uma prática difícil ou uma prática fácil, poderíamos, na verdade, avaliar isso com números ". Para a temporada 2019, 5 franquias começaram a utilizar os serviços da empresa, são elas: Cincinnati Bengals, New York Jets, Oakland Raiders, San Francisco 49ers e Tampa Bay Buccaneers, mostrando o sucesso que essa tecnologia, cada vez mais aprimorada, vem fazendo no esporte de alto rendimento.


Em 2019, a Catapult Sports iniciou seus trabalhos no Brasil e o Flamengo foi um dos primeiros clubes a adotar a nova tecnologia com o lançamento do Catapult Vector. Dessa forma, o clube pode analisar os sinais vitais dos atletas, em tempo real e com análise de carga, diretamente de um tablet.

Foto: catapultsports.com

A Rise Science é uma empresa que utiliza tecnologia para avaliar o sono. Através da obtenção de um kit simples de dispositivos fornecidos pela empresa, o atleta é capaz de monitorar os aspectos que envolvem esse fenômeno biológico. Além disso, busca solucionar os mais diversos problemas que prejudicam a qualidade do sono, como despertares noturnos, baixa duração e outros, pois o serviço fornece, em tempo real, protocolos e soluções para os diversos problemas encontrados durante as avaliações.

O Kit é composto por um óculos de lentes laranjas, uma bloqueador de claridade, um pequeno e simples dispositivo que é acoplado à cama do atleta e um software (também disponível em versão mobile). Todos os dados do sono podem ser extraídos diretamente do telefone, sem precisar de carregamento e sincronização. Além de ser uma tecnologia eficaz por si só, é de grande valia o material fornecido por esses relatórios para o Departamento Multidisciplinar da equipe, como ocorre nos grandes projetos da Rise Science com a NFL e NCAA. As informações obtidas pelo software podem ser utilizadas pelo Departamento Médico para auxiliar no diagnóstico de doenças, acompanhar a evolução do tratamento de patologias, traumas e lesões.

De acordo com o site da empresa, os testes clínicos mostraram um aprimoramento de 0.1% na corrida de 40 jardas, 10% melhor playmaking e redução de 70% na incidência de lesões.

A fisiologia envolvida é bem simples. Os olhos possuem células especiais que especificamente detectam a cor azul e o cérebro interpreta como luz do dia e tenta nos manter acordado. No entanto, quase todas as luzes que utilizamos para assistir televisão ou utilizar um tablet possuem luz azul. O resultado disso é que no período da noite o cérebro reconhece a luz azul e com isso a produção de melatonina ficaria alterada, prejudicando a qualidade do sono. A recomendação é utilizar os óculos por 1 hora antes de deitar. A outra recomendação compõe um guia de informações para o ambiente do sono, envolvendo acústica, temperatura e claridade. Para esse último, o serviço da empresa inclui um protetor que garante menor claridade na direção dos olhos do atleta.

O último dispositivo que compõe o pacote corresponde a um sensor que é inserido debaixo da cama. A tecnologia do sensor é capaz de medir a frequência cardíaca, os movimentos durante o sono, tempo para indução e diversos outras propriedades que envolvem o sono. Com o passar dos dias o atleta receberá em seu celular, através do aplicativo da empresa, um relatório de seu padrão de sono mapeado pelos dias da semana e conteúdos em vídeo relacionados com a demanda do atleta. O software então reconhece os padrões observados e envia ao atleta maneiras de solucionar os problemas apresentados.

A empresa já trabalhou com diversas equipes da NCAA e NFL onde vários profissionais do esporte relataram a eficácia desse novo instrumento de avaliação, que pode ser utilizado tanto pelo treinador como pelo Departamento Médico da equipe.

Foto: fastcompany.com
Ben Herbert - Michigan University Foto: michigan.rivals.com
Foto: michigan.rivals.com

"A equipe da Rise trabalha com nossa equipe e jogadores há vários anos, ajudando-nos a analisar os padrões de sono de nossos atletas para alcançar os níveis ideais de desempenho no campo e no dia a dia." Ben Herbert. Diretor de Força e Condicionamento, Universidade de Michigan.




Willie Fritz - Head Coach - Tulane University Football Foto: herosports.com
Foto: herosports.com

“O Rise fornece aos nossos funcionários as ferramentas para maximizar o sono e melhorar tanto como jogadores de futebol quanto como estudantes. Esse ganho mútuo torna o Rise a melhor coisa que podemos fazer para melhorar nosso programa.” Willie Fritz. Treinador principal, Tulane University Football.


Cryo Science


A crioterapia é a ciência de expor o corpo a temperaturas baixíssimas, a fim de estimular benefícios à saúde física e mental. Reduz a inflamação no corpo, estimulando uma substância química anti-inflamatória chamada norepinefrina. A crioterapia também aumenta a circulação sanguínea em todo o corpo, o que resulta em uma maior taxa metabólica e gasto calórico. O tratamento também aumenta o nível de endorfinas, que podem elevar o humor e reduzir o estresse.

A crioterapia de corpo inteiro (CBC) é um tratamento de três minutos que expõe todo o corpo a temperaturas extremas tão baixas quanto -140 ° C, a fim de promover benefícios de recuperação, desempenho e bem-estar.


A prática de aplicar tratamentos de baixa temperatura remonta ao Egito Antigo, Império Romano e Grécia, iniciada em 2500 A.C. Em 1978, o médico japonês, Dr. Yamaguchi, modernizou a crioterapia de corpo inteiro. Ele usou sessões de congelamento para estimular o sistema imunológico e tratar a artrite. Após 22 anos, um grupo de cientistas poloneses adotou a crioterapia como uma forma de fisioterapia, desenvolvendo um centro olímpico de reabilitação em Spala, na Polônia. Hoje, a prática é amplamente utilizada na recuperação de lesões esportivas, combate à fadiga, promoção da perda de peso, bem-estar geral e antienvelhecimento.


Jamal Liggin, fundador da JLT, treinou atletas como Julio Jones, Odell Beckham Jr e Von Miller. Em suas entrevistas defende o treinamento realizado da maneira mais segura o possível, pensando na saúde, com protocolos focado no ganho progressivo de resultados. Com a popularização e modernização da prática, não é estranho que JLT seja um defensor da crioterapia e recomende a utilização de CBC após sessões mais extenuantes.


Uma curiosidade sobre a crioterapia ocorreu em agosto de 2019. O atleta Antonio Brown (Las Vegas Raiders, na época Oakland Raiders) lesionou seu pé após uma queimadura por frio que ocorreu durante o uso da crioterapia, posteriormente publicando em seu Instagram uma foto do pé após a lesão. Isso mostra que até a terapia mais moderna precisa de cautela para ser utilizada.

Antonio Brown - Oakland Raiders Foto: raiders.com
Antonio Brown - Oakland Raiders Foto: raiders.com

Texto e pesquisa de autoria de Thiago Dias, médico do Flamengo Imperadores.

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