O futebol americano é caracterizado por um amplo cenário no que se refere a aplicação da Fisiologia. Atletas de diferentes posições e composições corporais atuam sob táticas e técnicas distintas. A eficácia de determinada estratégia passa pelo desenvolvimento e aplicação de diferentes capacidades neuromusculares. A periodização do treinamento desportivo, planejamento dietético e suplementação alimentar buscam atender as necessidades do treino, promover sinalização celular adequada e desenvolver um ambiente metabólico favorável para estimular determinada(s) capacidade(s).
Um atleta que atua na posição de Wide-Receiver, por exemplo, para aperfeiçoar as capacidades físicas de velocidade, explosão, equilíbrio e salto, mantém seu índice de gordura corporal em níveis mais reduzidos. Outro exemplo são os Linebackers, que após percorrerem uma temporada regular conturbada e com muitas viagens recorrem a treinamentos de hipertrofia para restabelecimento de sua muscularidade e padrão atlético.
O que esses atletas possuem em comum é que eles trabalham modulando os mesmos hormônios, apenas deslocam a homeostase (equilíbrio metabólico) para uma direção favorável ao desempenho esportivo. Esse deslocamento ocorre de maneira distinta, inclusive quando se trata do mesmo atleta, pois os estímulos necessários variam de acordo com a temporada, lesões, necessidade tática da equipe e individualidade biológica.
A idéia de que o controle hormonal no esporte ocorre de maneira orquestrada e pronunciada pode ser observada citando novamente o exemplo do Wide-Receiver e Linebacker, usando como exemplo o hormônio cortisol, conhecido popularmente como Hormônio do Stress.
Para melhor compreensão do texto, vale resumir um pouco o papel desse hormônio no organismo humano. O cortisol é o principal hormônio glicocorticóide liberado pela Glândula Suprarrenal, localizada acima do Rim. Possui atividade catabólica (degradação de substâncias) e sua função é caracterizada por efeitos sistêmicos, pois praticamente todas as células humanas expressam receptores de glicocorticóides. O papel principal desse hormônio está na regulação do metabolismo da glicose pela estimulação da Gliconeogênese (obtenção de glicose pela mobilização de reservas energéticas). No que se refere ao esporte e exercício, sua atividade catabólica se eleva com atividades aeróbias e em treinamentos de força/potência, com importante papel adaptativo e sinalizador no remodelamento do músculo estriado esquelético.
No caso do atleta Wide-Receiver, que busca o manter condicionamento físico, o cortisol atua como aliado mobilizando reservas energéticas, auxiliando na perda de gordura (lipólise) e emagrecimento. A lipólise é modulada pela ação de uma enzima chamada Lipase Hormônio Sensível (LHS), sendo cortisol um de seus principais ativadores. Sua propriedade favorável ao emagrecimento, no entanto, é inibida pelo aumento de insulina, ocorrendo após o consumo de carboidratos, como doces e pães. Resumindo, nesse caso, o aumento do cortisol, está intimamente ligado ao planejamento do atleta de perder gordura e seus níveis devem se adequar para esse objetivo.
O atleta Linebacker, de acordo com o exemplo citado, tem como objetivo principal a hipertrofia muscular. No entanto, nesse caso, o aumento de cortisol pode promover o catabolismo de proteínas e aminoácidos, interferindo no processo de restabelecimento de muscularidade e afastando o atleta de seus objetivos. Logo, como podemos observar, o controle adequado dos níveis do cortisol é fundamental, mesmo quando o objetivo é outro.
O sono irregular, seja qual for a causa base, é um dos principais motivos da alteração do metabolismo do cortisol, como relatado no Football Science sobre Sono e Energia, que você pode conferir clicando aqui. Fatores como o stress, ansiedade e outras comorbidades relacionadas à saúde mental também podem atuar no metabolismo do cortisol, modulando sua ativação. Por isso, o ideal é sempre seguir programas elaborados por profissionais capacitados para que o estímulo e sinalização ocorram de maneiras coordenadas e favoráveis à longevidade e ao desenvolvimento de performance.
Texto e pesquisa de autoria de Thiago Dias, médico do Flamengo Imperadores.
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