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  • Foto do escritorThiago Dias

Esporte e Desenvolvimento Infanto-Juvenil

Atualizado: 6 de jul. de 2021

Na última edição do Football Science sobre Genética e Esporte, e na live realizada sobre o tema no Instagram do Flamengo Imperadores (que você pode conferir aqui), citei a influência poligênica e multifatorial da performance atlética, além dos fatores ambientais que influenciam o desenvolvimento do jovem atleta. Após a transmissão, surgiram perguntas sobre como devem ser os cuidados com a prática esportiva em cada etapa do desenvolvimento infanto-juvenil.

No início dos anos 90 notou-se um crescimento considerável nas taxas de participação em esportes e competições infanto-juvenis. No mesmo período, percebeu-se um aumento no número de lesões e casos de Síndrome de Burnout relacionados a prática esportiva para a faixa etária em questão.

Embora a prática esportiva e a participação em competições seja vista de forma positiva pela sua capacidade de promover saúde física e mental, socialização, trabalho em equipe, responsabilidade e independência, também está associada a um conjunto de pontos negativos como treinamento excessivo, irregularidade alimentar, imaturidade, níveis elevados de estresse e ansiedade e isolamento social. Além disso, conflitos entre pais-filhos e pais-treinadores.

Essas questões negativas, em sua grande maioria, resultam da tendência a uma especialização precoce em torno de uma única modalidade, da exposição prematura à equipes competitivas e de uma periodização de treinamento caracterizada por poucos intervalos e recessos entre temporadas e competições. No que se refere a conjuntura social, a realização pessoal dos pais imposta aos filhos e a falta de reconhecimento da importância dos estágios do desenvolvimento infantil estão entre os principais pontos negativos.

O desenvolvimento do esporte infanto-juvenil deve ser dividido em estágios ou fases, de acordo com a faixa etária, focando em tarefas e habilidades adequadas para a maturidade física e emocional. Um modelo amplamente utilizado, proposto por Jon Hellstedt (atual representante da NCAA no Departamento de Atletismo) e atualizado por Shane Murphy (psicólogo do Comitê Olímpico dos Estados Unidos) é composto por três fases: Exploração, Comprometimento e Proficiência, divididas por faixas etárias.


1) Exploração (entre 4 e 12 anos) A faixa etária em questão é caracterizada pelo desenvolvimento motor amplo, sendo fundamental o desenvolvimento de habilidades básicas por meio de movimentação constante e amplos domínios do equilíbrio. A experimentação do maior número de esportes e atividades físicas é de grande benefício para a saúde da criança, buscando encontrar aqueles que elas mais se identificam, se divertem e possuem maior aptidão. A ênfase das atividades está na variedade e prazer. Pode-se citar como exemplo a prática de corrida, saltos, equilíbrio e coordenação.

Os cuidados dos pais e responsáveis devem incluir a monitorarização cuidadosa da intensidade e vontade de vencer, e também escolher treinadores que saibam como motivar os interesses pelo esporte e a confiança da criança.

2) Comprometimento (entre 12 e 15 anos) Na fase de comprometimento, os atletas restringem seu foco a um esporte em específico e começam a encontrar razões pessoais para treinar e iniciar uma carreira no esporte. Nessa fase, os atletas precisam saber que estão no controle de sua participação. Se a participação no cenário esportivo ocorrer por pressão dos pais, responsáveis ou treinadores, a ocorrência de Síndrome de Burnout e desistências são inevitáveis e a criança pode se desligar dos esportes e atividade física, comportamento que pode se estender para a fase adulta.

3) Proficiência (entre 15 e 18 anos) A terceira etapa é caracterizada pela dedicação dos atletas voltando-se para um treinamento físico mais complexo e elaborado, associado a um desenvolvimento de autoconfiança competitiva por meio de uma preparação de qualidade e multiprofissional. O estabelecimento de metas torna-se comum e o convívio com boas influências no esporte pode ser de grande valia para a maturidade emocional relacionada ao esporte, saber lidar com situações de vitórias e derrotas em competições de maior importância e visibilidade e a ter paciência sobre os ganhos de capacidade física e performance.

A periodização do treinamento deve respeitar o desenvolvimento infanto-juvenil. Nessa fase, é muito importante selecionar o nível competitivo adequado, pois um nível muito alto pode resultar em muito pouco tempo de jogo e sentimento de fracasso e impotência.

O papel dos pais é de suma importância ao longo de todas as etapas dos modelo de desenvolvimento esportivo infanto-juvenil. Antecipar a participação do jovem atleta em eventos de maior competitividade sem a maturidade necessária ou que não corresponda ao interesse e paixão pela modalidade leva a diversos conflitos que se estendem além das quatro linhas e impactam na saúde física e emocional da criança ou adolescente.

O principal erro dos responsáveis está em forçar a criança a um determinado esporte, como aqueles em que os próprios pais atuaram ou sonharam atuar, e não deixá-las traçarem seus próprios caminhos e objetivos. Os melhores treinadores sabem a importância de diferenciar cada etapa e respeitar o tempo de cada jovem atleta, reconhecem que a adequação esportiva e o desenvolvimento de performance leva tempo e requer cuidados específicos. Hoje, pela grande demanda e necessidade de conteúdo sobre o tema, encontramos plataformas virtuais como o MomsTeam (https://www.momsteam.com/) que fornece conteúdo acadêmico sobre esporte para o público infanto-juvenil, feito por especialistas, para diversos profissionais como pediatras, ortopedistas, treinadores e educadores. Além disso, conteúdos direcionados para pais e responsáveis de jovens-atletas baseados em evidências científicas, em linguagem simples e direta.

A premiação da NFL para trabalhos científicos, a NFL: 1st & Future, já citada aqui no Football Science, premiou em fevereiro de 2019 o projeto TackleBar, uma nova modalidade de Futebol Americano adaptada para o público infanto-juvenil, onde questões de segurança e prevenção de lesões foram desenvolvidas buscando realizar uma transição suave do jovem atleta para a prática do futebol americano profissional, despertando o interesse pela modalidade para um público ainda maior e iniciando mais jovens na modalidade.


Fonte: TackleBar.com

A adequação individual ao esporte é imprescindível e deve levar em conta as questões biológicas, vontade do jovem atleta e sempre respeitar os horários escolares. Para garantir que os aspectos positivos da participação esportiva dos jovens atletas superem os negativos, programas de treinamento devem reconhecer e respeitar as fases do desenvolvimento do esporte juvenil, a importância da influência dos pais e do treinador, as necessidades de pausas e recessos e de uma boa qualidade de vida. Além disso, o acompanhamento regular de saúde, realizado de maneira multiprofissional é fundamental para garantir a saúde física e mental, evitando intercorrências e promovendo saúde durante esse processo de desenvolvimento e início na carreira profissional.


Texto e pesquisa de autoria de Thiago Dias, médico do Flamengo Imperadores.

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