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  • Foto do escritorThiago Dias

Neurociência do Futebol Americano: Parte 2 - Força

Atualizado: 6 de jul. de 2021

No dia 05 de março, o atleta Rodrigo Oliveira, de 151kg, que atua na posição de Defensive Tackle pelo Flamengo Imperadores, cumpriu o desafio proposto pelo jogador Tristan Wirfs, propect do Draft 2020 da NFL. Em um vídeo publicado em seu instagram, o atleta norte-americano aparece saltando para fora de uma piscina, sem utilizar as mãos e desafiou atletas do mundo todo a conseguirem fazer o mesmo. Ou seja, a idéia era que realizassem um salto, sem apoio de membros superiores, com água alcançando, mais ou menos, a altura da cintura e conseguissem se ejetar para fora da piscina.


Ao realizar tal feito, Rodrigo teve seu vídeo publicado e compartilhado por atletas e páginas de mídia esportiva, como o Instagram NFLBrasil, maior de futebol americano no Brasil.





























Após se deparar com esse vídeo é inevitável se questionar: Como ele consegue? A resposta é simples: Desenvolvimento neuromuscular. E, diferente da crença popular, o mérito não cabe somente a musculatura, pois um dos grandes responsáveis por esse fenômeno é o cérebro. Para compreender esse fenômeno precisamos entender como o nosso cérebro é capaz de gerar movimento, aplicar força e se adaptar a novos estímulos, buscando alcançar novos padrões de ação e armazenar informação.


A Força é definida como a tensão gerada por um músculo contra uma resistência, a partir contração muscular. O fenômeno inicia-se a partir de estímulos nervosos que constituem um processo voluntário e desencadeiam ações. A capacidade de contração muscular, de maneira isolada, não garante que a aplicação da força seja eficiente para um bom desempenho. De acordo com os pesquisadores Jensen e Fisher, para que essa eficiência ocorra, a combinação de três aspectos deve ser considerada:

  1. A capacidade de ativar o maior número possível de unidades motoras dos músculos em ação.

  2. A capacidade de coordenar a ação dos músculos agonistas com os antagonistas

  3. A capacidade biomecânica do corpo em relação ao movimento

O córtex motor é o grande responsável pelo controle e pela coordenação da motricidade voluntária isolada. Organiza o comando do movimento e envia esse comando em uma sequência bem definida: Córtex motor, tálamo, gânglios da base, cerebelo, tronco cerebral, medula espinhal e músculo.


Após a contração inicial, a informação ascende ao cerebelo e, partir dessa nova informação, organiza as sequências de músculos a serem contraídos para conseguir executar um movimento fino e coordenado. Dessa forma, realiza uma comparação significativa entre o movimento realizado e idealizado, que são sempre diferentes. Essa diferença entre o movimento que foi programado pelo córtex motor e o movimento que foi realizado pelo músculo é reenviada pelo cerebelo de volta ao córtex motor que envia correções à medida que o movimento transcorre. melhorando a eficácia sináptica dos sistemas envolvidos na ação. É importante ressaltar a influência do córtex motor na aprendizagem motora.


Assim, informações ascendentes, oriundas dos membros e dos músculos, e informações descendentes, originadas do córtex motor, se combinam. A elaboração de padrões, a partir da aprendizagem motora, sustenta-se na conectividade e organização desse novo padrão neural. O ajuste desses novos padrões produzem um sistema de referência no qual o comportamento motor torna-se mais eficiente com o aumento da experiência, ou seja, acompanha a evolução dos treinamentos.


De acordo com os pesquisadores Luft e Andrade, a aprendizagem motora estuda a mudança no comportamento motor decorrente da aquisição de uma nova habilidade motora, que apresenta três características:

  1. A forma como o movimento é organizado;

  2. A importância relativa dos elementos motores e cognitivos

  3. O nível de previsibilidade ambiental envolvendo performance e habilidade.

A combinação desses fatores leva ao aperfeiçoamento da atividade neural em diferentes regiões do cérebro, sobretudo nas áreas responsáveis à programação do movimento.


O desenvolvimento de força é caracterizado por adaptações crônicas que ocorrem no Sistema Nervoso Central a partir de estímulos específicos provocados pelo treinamento resistido. Ocorre após o treinamento intenso, em razão da ativação neural aumentada do músculo. Ou seja, o ganho de força bruta ocorre de maneira similar ao desenvolvimento do intelecto/inteligência, o que diferencia é o estímulo.


Agora, em um paralelo com o conceito de inteligência, que já foi descrito há séculos e ao longo da história inúmeras novas definições foram propostas, notamos grandes semelhanças e por isso muitos pesquisadores já colocam a força como uma propriedade cognitiva.


Desde a Grécia Antiga o ser humano expande o conceito de inteligência para algo além de cálculos matemáticos e vocabulário. Aristóteles, descreveu em um dos primeiros relatos: “A inteligência não é formada somente pelo conhecimento, mas também e, sobretudo, pela habilidade de aplicar os conhecimentos na prática”. Se formos comparar esse relato com a maneira que aplicamos a força e como podemos desenvolvê-la, faz todo sentido considerá-la uma inteligência. Recentemente, Howard Gardnes, psicólogo e pesquisador, através da “Teoria das Múltiplas Inteligências” descreveu inteligência como “capacidade ou potencial geral que cada ser humano possui em maior ou menor extensão” sendo este um dos conceitos mais aceitos na literatura atual e, onde, mais uma vez a força se encaixa como uma propriedade intelectual e cognitiva, fruto de um longo aprendizado e treinamento.


Em linhas gerais, o treinamento visando o ganho de força bruta consiste numa sessão curta, com carga de peso elevada. Esse treino visa o maior recrutamento de unidades motoras , utilizando o maior número de fibras musculares possíveis para que a carga imposta seja vencida. Como relatam os pesquisadores Hellebrant e Houtz, esse aumento é proporcional à quantidade de sobrecarga, tal como medido pela força relativa desenvolvida e pelo número das ações musculares executadas durante o treinamento de força.



No Futebol Americano o treinamento de força é fundamental para elevar o desempenho do atleta para um nível de desempenho excelente. Para que um protocolo de treino de força seja iniciado, evitando lesões e se adequando corretamente à individualidade do atleta, procure um profissional de educação física. Além disso, para que o aproveitamento dessa periodização seja o maior possível, é interessante ter um protocolo nutricional adequado para isso, portanto a ajuda de um nutricionista torna-se fundamental no ganho de força bruta.


Texto e pesquisa de autoria de Thiago Dias, médico do Flamengo Imperadores.



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